as efêmeras horas do seu riso de certezas infinitas.

Um riso, um desprezo. Um conhecimento nato de quem está acima do trivial. Enquanto houver relações humanas, haverá pequenas intrigas, pequenos desafetos, momentos bobos de ironia – uma verdade camuflada.

Tudo dura 24 horas e assim escolhe-se o cheio do copo vazio. Nascer do sol, por do sol, lua, mar, café, festa, jantares, felicidade, sorrisos. Filosofia de vida, Filósofos da Wikipédia. O real fica para produção interna. Nu, cru, frágil. Costumo classificar essa realidade como demanda inelástica – por mais que se precise dela, ninguém vai sair correndo para comprar na black friday.

O mundo pede estórias efémeras. Cliques, likes, seguidores, selfies, viagens, carreira, sucesso. Ganha quem conseguir sustentar por mais tempo o que os livros já não transformarão em história. Tradicional, novo, velho deveriam coexistir e levar à evolução. Cazuza, entretanto, esteve sempre certo. Um museu de grandes novidades à nossa frente.

Vantagem ou desvantagem? Os dois. É possível. Há quem chegue e negue tudo sem nem mesmo o conhecer. Afinal, um Stories contou tudo sobre como se chegou lá – num clique, em K likes, fácil.

Esforços, livros, artigos, letras, conversar, planejamento, sapos engolidos. Nada mais conta. Só vale se for grande, luxuoso, internacionalmente conhecido. Influencer. De resto, o mesmo riso de desprezo vai do começo ao fim. A retórica de Narciso ganhou dos fatos. A farsa prevaleceu e foi aplaudida no final do espetáculo.

Queria vir agreste, seco, sem pré concepções. Aberto ao novo, mas com o passar do tempo uma corda com nó de marinheiro parece agarrada a canela e teima em carregar tudo que ja existiu – bom ou ruim, aberto ou fechado, medo ou coragem. Mudam ares, mudam eras. No fim, tudo volta-se ao redor de mais do mesmo, numa osmose sedenta pelo, irônico, equilíbrio.

Tudo que é sólido ainda pode derreter. Um novo ano se inicia, ainda há esperança.

No fim das contas, toda tela é de vidro.